sexta-feira, 19 de março de 2010

Polícia Civil presta atendimento domiciliar - Rio de Janeiro

A Polícia Civil do Rio está fazendo sua pequena grande revolução. Começou a implantar um modelo de polícia civil comunitária, apesar de não ter constitucionalmente o dever do policiamento ostensivo. Como se sabe polícia comunitária ou de proximidade é aquela que depende fundamentalmente de laços com os moradores, para que a ação preventiva seja bem-sucedida. Historicamente o trabalho de policiamento comunitário tem ficado nas mãos da Polícia Militar, por sua função constitucional de patrulhamento e policiamento preventivo. Mas a Polícia Civil do Rio - inspirada talvez no relativo sucesso das UPPs - decidiu mostrar seu valor.
O chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, lançou então o Dedic - o programa de dedicação integral dos policiais civis. O serviço consiste basicamente em dois pontos: mudar a escala de serviço dos policiais, para que trabalhem diariamente e não mais 24 por 72 horas de folga; e num atendimento a domícilio, a partir de  agendamento pela internet. Turnowski me garantiu que a adesão dos policiais ao programa é  voluntária, mas atingiu um  índice de 65%. Inicialmente o projeto Delegacia Legal - que deve ser concluído este ano, após sua criação há uma década, no governo Garotinho - previa a mudança de escala dos policiais. Mas essa parte do projeto fracassou por causa do "bico" - o segundo emprego dos policiais que, muitas vezes, lhe garantem sustento mais polpudo do que o primeiro, público.
Em entrevista à TV Repórter de Crime, Turnowski afirma que o "bico" é uma escravidão. Ele alega que a maioria dos "bicos" paga pouco e que apenas priva o policial de investir em si próprio e em sua família. A verdade é que muito policial entra para a corporação de olho na arma e no distintivo, que vão permitir seu ingresso no "segundo emprego". Em geral, as empresas de segurança preferem ter policiais e ex-policiais em seus quadros porque isso abre mais portas do que fecha.
Eu duvido que o programa Dedic vá conseguir acabar com o "bico', como sonha Turnowski. Mas ele tem uma característica que considero extremamente importante na construção de uma polícia mais eficiente: a busca por se aproximar do cidadão. Não é de hoje que as pessoas cansaram de  ir à delegacia mais próxima ara prestar queixa. Como se sabe, a crise de confiabilidade da polícia é tamanha. Mas agora a polícia parece apostar no  velho ditado: "Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai a montanha". A montanha, no caso, são os contribuintes. Toda a delegacia de polícia deveria ser dedicada integralmente ao cidadão. E é esse o sonho de Turnowski, que pretende transformar o programa num projeto de política pública. Se o Dedic for feito com muita dedicação,  com certeza poderá contribuir para que se reduza o enorme fosso entre sociedade e forças de segurança. Mesmo que o início seja em delegacias de áreas nobres, não tem problema. Se o projeto passar no teste da classe média, sempre exigente, tem grandes chanches de conquistar outros segmentos da sociedade.

Extraído do blog:
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/posts/2010/03/14/maome-a-montanha-num-projeto-da-policia-civil-274343.asp

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